Gestores: Mônia, sua carreira sólida como CFO e consultora é marcada pela otimização de recursos e pelo foco em resultados. Quais você acredita serem hoje os pilares essenciais para uma liderança estratégica e eficaz no setor de Telecom?

Monia: Em minha trajetória tenho observado que para alcançar resultados, a gestão precisa estar baseada em três pilares fundamentais.

O primeiro pilar é o Planejamento, que precisa ser simultaneamente robusto e adaptável. Este setor exige uma abordagem dual: qualitativa, onde definimos objetivos claros e estabelecemos estratégias que norteiam o crescimento da empresa; e quantitativa, com orçamentos detalhados que prevejam não apenas receitas e despesas operacionais, mas também investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica. No setor de Telecom, o planejamento precisa contemplar ciclos de investimento mais longos, considerando a rápida obsolescência tecnológica, a necessidade constante de capex e o atual estágio de maturidade do mercado.

O segundo pilar é o Controle, elemento crítico em qualquer empresa, mas ainda mais sensível em um setor onde os custos de infraestrutura são elevados e as margens frequentemente pressionadas pela competição. O controle se aplica tanto a orçamento, como às demais KPI’s, que devem monitorar não apenas métricas financeiras tradicionais, mas também outros indicadores relevantes. Qualidade de serviço, eficiência operacional, churn,  SLA’s, entre outros que impactam significativamente os resultados. O controle eficaz permite ajustes rápidos em um mercado onde a velocidade de resposta pode determinar a viabilidade do negócio.

O terceiro e mais transformador pilar é Pessoas. Em Telecom, onde a complexidade técnica se encontra com a necessidade de atendimento humanizado, equipes multidisciplinares bem geridas fazem toda a diferença. A liderança eficaz neste setor demanda saber entender, motivar e inspirar pessoas. É preciso também ter a capacidade de traduzir objetivos técnicos em metas compreensíveis, promover a colaboração entre equipes de engenharia, operações  e atendimento, e fomentar uma cultura de inovação contínua. O desenvolvimento de talentos com competências híbridas – técnicas e gerenciais – é particularmente estratégico para provedores que buscam diferenciação no mercado.

A capacidade de integrar estes três pilares e conduzir a empresa através de uma gestão orientada por dados são fatores cruciais na obtenção de resultados. Provedores que conseguem transformar dados operacionais em insights estratégicos, utilizando-os para refinar seu planejamento, aprimorar seus controles e desenvolver suas equipes, tendem a apresentar resultados financeiros consistentemente superiores.

Gestores: Você sempre destacou a importância da gestão financeira inteligente para a sustentabilidade das empresas. Que dicas práticas você daria para líderes e gestores que querem alavancar seus negócios em um mercado tão competitivo?

Monia: Planeje com precisão e estratégia: O planejamento eficaz vai muito além de estabelecer metas – é sobre arquitetar o caminho completo para alcançá-las. Defina métricas que sejam simultaneamente desafiadoras e alcançáveis, criando tensão criativa na organização. Um bom plano financeiro deve funcionar como um GPS empresarial: mostra não apenas o destino, mas recalcula rotas quando necessário, considerando cenários diversos e preparando a empresa para contingências. No setor de Telecom, onde os investimentos são intensivos e de longo prazo, este planejamento precisa equilibrar a visão de futuro com a realidade do fluxo de caixa presente.

Adote o ciclo virtuoso de medição-comparação-melhoria: Como costumo dizer, “dados são o novo petróleo, mas insights são o combustível refinado”. Implemente um sistema robusto de monitoramento de indicadores-chave, comparando-os não apenas com seu histórico, mas com benchmarks do setor. Esta triangulação de dados permite identificar com precisão onde estão as oportunidades de otimização. O diferencial está em transformar esta análise em um processo cíclico e ágil, onde cada iteração gera melhorias incrementais que, somadas, produzem resultados exponenciais ao longo do tempo.

Pense Diferente: Este é talvez o princípio mais transformador em qualquer dimensão do negócio. Questione constantemente: “O que pode ser mudado fundamentalmente em nosso modelo? Onde podemos criar novas propostas de valor? Que necessidades latentes existem em nosso mercado?” A estagnação é o prelúdio do declínio – se a empresa continua operando com os mesmos paradigmas, inevitavelmente colherá os mesmos resultados. Observe que quando um negócio não evolui, a solução raramente está em apenas substituir pessoas, mas em repensar processos, produtos, experiências e modelos de negócio. Esta mentalidade deve permear todas as áreas, da engenharia ao atendimento, das operações às finanças, criando um ecossistema onde a inovação é sistêmica e não episódica.

Acelere a execução:  A execução é o campo de batalha onde estratégias brilhantes frequentemente sucumbem. No ambiente atual, a velocidade de implementação pode ser mais determinante para o sucesso que a perfeição do plano. Desenvolva mecanismos ágeis de tomada de decisão, eliminando burocracia desnecessária sem comprometer controles essenciais. Em Telecom, onde oportunidades de mercado surgem e desaparecem rapidamente, a capacidade de mobilizar de forma ágil pode ser a diferença entre liderar uma tendência ou apenas segui-la.

Gestores: Além de sua atuação como executiva e consultora, você também é uma grande defensora da educação continuada. Pode nos contar mais sobre a iniciativa do MBA em Gestão para Telecom e o que motivou a criação desse programa?

Monia: A educação continuada sempre foi um pilar fundamental em minha trajetória profissional, e acredito firmemente que o desenvolvimento de talentos é um dos maiores diferenciais competitivos em qualquer setor.

O setor de Telecomunicações possui particularidades que permeiam todas as áreas operacionais e estratégicas. Desde aspectos regulatórios específicos até modelos de precificação únicos, passando por estruturas de custos e investimentos muito particulares – tudo isso cria um ecossistema que demanda conhecimentos especializados que raramente são abordados em programas de gestão convencionais.

Um dos desafios mais consistentes que tenho observado em minha atuação, seja como executiva ou  como consultora, é justamente a dificuldade das empresas em encontrar e desenvolver profissionais que compreendam não apenas os fundamentos de gestão, mas também como aplicá-los às especificidades do setor. Paralelamente, percebo que os executivos de Telecom frequentemente enfrentam uma certa “solidão estratégica”, com poucas oportunidades estruturadas para trocar experiências com pares que vivenciam desafios semelhantes.

Quando a FISUL e o professor Fabiano Coelho me convidaram para coordenar conjuntamente este MBA em Gestão para Telecom, identifiquei imediatamente uma oportunidade transformadora. Não se tratava apenas de criar mais um programa acadêmico, mas de desenvolver um ecossistema de aprendizagem que pudesse simultaneamente:

Fornecer ferramentas de gestão customizadas para as realidades específicas dos provedores e operadoras;

Criar uma comunidade de prática onde executivos e gestores pudessem compartilhar desafios e soluções;

Construir uma ponte entre o conhecimento acadêmico de ponta e as aplicações práticas no dia a dia das empresas.

O programa foi estruturado com essa visão dual – combinar a solidez conceitual que se espera de um MBA de excelência com a aplicabilidade imediata que os gestores de Telecom necessitam. Cada disciplina foi desenhada para equilibrar teoria e prática, trazendo casos reais do setor e promovendo discussões que transcendem a sala de aula.

O que mais me entusiasma nesta iniciativa é seu potencial multiplicador. Cada profissional que passa pelo programa não apenas aprimora suas competências individuais, mas se torna um agente de transformação em suas organizações. Em um setor tão essencial para o desenvolvimento do país e que passa por constantes evoluções tecnológicas e mercadológicas, investir na formação de lideranças preparadas para estes desafios é, em última análise, contribuir para a evolução de todo o ecossistema digital brasileiro.

Gestores: Pensando no futuro do nosso setor, de que forma você acredita que uma formação como o MBA pode impactar positivamente a evolução das empresas e dos profissionais de Telecom?

Monia: O setor de Telecom brasileiro possui uma trajetória fascinante que reflete muito do espírito empreendedor nacional. A maioria dos provedores de internet nasceu de iniciativas extremamente pequenas, muitas vezes com os próprios proprietários – normalmente profissionais com perfil técnico – executando pessoalmente todas as funções operacionais. Testemunhei inúmeras histórias de empreendedores que começaram literalmente instalando antenas e configurando roteadores, e hoje lideram empresas com milhares de clientes.

Este crescimento, embora extraordinário, traz consigo desafios significativos. O mercado está cada vez mais acirrado, com grandes operadoras intensificando sua presença, fusões e aquisições redesenhando o cenário competitivo, e margens sendo pressionadas. Neste contexto, a necessidade de profissionalização da gestão tornou-se não apenas importante, mas vital para a sobrevivência e prosperidade.

Vejo o MBA em Gestão para Telecom como uma ferramenta transformadora em múltiplas dimensões. Primeiramente, ele democratiza o acesso a técnicas de gestão que tradicionalmente estariam disponíveis apenas para grandes corporações. Mais importante ainda, o programa adapta estas metodologias às realidades específicas do setor, considerando suas particularidades regulatórias, tecnológicas e mercadológicas.

Para os proprietários e gestores que já atuam no setor, o MBA oferece a oportunidade de elevar suas empresas a um novo patamar de maturidade organizacional. Questões como precificação estratégica, gestão eficiente de investimentos em infraestrutura, desenvolvimento de novos produtos e serviços, e estruturação de processos escaláveis são abordadas com a profundidade teórica necessária, mas sempre com o pragmatismo que o mercado exige.

Já para profissionais que desejam ingressar ou se desenvolver no setor, o programa proporciona uma compreensão abrangente do ecossistema de Telecom, reduzindo significativamente a curva de aprendizado. Entender as nuances deste mercado – desde aspectos técnicos até dinâmicas comerciais específicas – pode acelerar trajetórias profissionais e tornar estes talentos imediatamente mais valiosos para suas organizações.

Gestores: Para fechar, que mensagem você gostaria de deixar para os gestores que hoje lideram equipes e negócios em Telecom, especialmente sobre a importância de investir no próprio desenvolvimento e na educação de suas lideranças?

Monia: Meu conselho para os gestores de Telecom é direto: transforme seu desenvolvimento e o de sua equipe em prioridade estratégica, não em item opcional. Estabeleça metas claras de aprendizado, crie espaços para compartilhamento de conhecimento e busque constantemente novas perspectivas, seja através de programas formais como MBAs ou de comunidades de prática. Em um mundo onde a única constante é a mudança, e para nós que estamos na vanguarda da transformação digital do país, a capacidade de aprender continuamente não é apenas uma vantagem competitiva – é uma condição de sobrevivência.

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