
No quadro “Gestores em Foco”, temos a honra de apresentar uma conversa inspiradora com Vicente Gomes, um dos precursores do setor de provedores de internet (ISP) no Brasil. Como sócio-fundador da Sumicity e Giga Fibra, Vicente carrega uma trajetória marcada por inovação, estratégia e resultados expressivos. Sua missão é clara: impulsionar o crescimento através de abordagens eficazes que gerem valor e sustentem o desenvolvimento empresarial.
Com uma visão centrada na excelência operacional e na inovação, Vicente busca alinhar os objetivos de suas empresas com uma perspectiva global e sustentável, contribuindo para o fortalecimento do setor de telecomunicações no país. Nesta entrevista, iremos explorar os desafios superados, as estratégias adotadas e as lições valiosas adquiridas ao longo de sua jornada.
Acompanhe esta conversa enriquecedora e descubra como a liderança visionária de Vicente Gomes tem inspirado transformação e crescimento no mercado de ISPs
Gestores: Quais foram os maiores desafios para manter sua liderança inovadora e como você os superou?
Vicente: Minha trajetória no setor de telecomunicações começou em 2002, logo após me formar na faculdade. Junto com meu irmão e um amigo, fundamos um provedor de internet, que mais tarde se tornaria a Sumicity. O maior desafio inicial foi conseguir um link de internet para distribuir para os clientes, pois a infraestrutura da operadora disponível, a Oi, era extremamente limitada. Conseguimos um circuito de apenas 1 Mbps, que custava uma fortuna na época. A solução foi correr contra o tempo: puxamos cabos de rede pela cidade, batendo de porta em porta para conquistar clientes o suficiente para pagar essa conta.
Manter a liderança sempre foi um desafio constante. Como o setor ainda estava em desenvolvimento, não havia referências nem mão de obra qualificada. O caminho foi aprender na prática, acertando e errando. Nossa estratégia sempre foi a inovação contínua. Fomos um dos primeiros pequenos provedores a oferecer telefonia fixa e, em 2012, lançamos IPTV com transmissão em 4K, muito antes do mercado tradicional. Essa mentalidade de estar à frente do tempo e apostar em tecnologia foi essencial para nos mantermos líderes.
Além da inovação, sempre tivemos um foco extremo no cliente. Um cliente sem internet ou cem tinham o mesmo nível de atenção da nossa equipe. Isso criou uma reputação forte, sustentando nosso crescimento.
Gestores: Como você transformou ideias em negócios sólidos e escaláveis, especialmente no setor de telecomunicações?
Vicente: O sucesso da Sumicity veio de uma combinação de fatores: identificação de uma necessidade real, uso inteligente da tecnologia e foco total no cliente. No início, a internet era escassa, e conseguimos preencher essa lacuna rapidamente. Com o tempo, aprendemos que o diferencial competitivo era não apenas oferecer o serviço, mas garantir qualidade e inovação.
Depois de vender a Sumicity para um fundo de investimento, fiquei impossibilitado de atuar no Brasil. Foi aí que decidi recomeçar do zero, levando minha experiência para a Colômbia com a Giga Fibra Colômbia. A realidade do mercado era outra: já existiam muitos concorrentes, diferente do Brasil nos anos 2000. O desafio deixou de ser a infraestrutura e passou a ser a aquisição de clientes.
Com dois anos de operação, já ultrapassamos 10 mil clientes e um faturamento superior a 210 mil dólares por mês. O segredo foi apostar em qualidade e diferenciação no serviço. Nossa visão é clara: queremos ser reconhecidos como a melhor operadora da Colômbia, e estamos no caminho certo.
Gestores: Como você vê o futuro da indústria de telecomunicações nos próximos cinco anos e quais inovações terão o maior impacto?
Vicente: O setor de telecomunicações está entrando em uma fase de consolidação. O Brasil, por exemplo, já está saturado: não há mais clientes “novos”, e as empresas competem entre si pelos mesmos consumidores. Isso leva a uma guerra de preços que torna a operação cada vez mais desafiadora.
Nos próximos cinco anos, acredito que veremos um movimento forte de fusões e aquisições. As empresas precisarão se unir para reduzir custos e ganhar escala. Com os juros altos e o custo de aquisição de clientes elevado, a única forma de sobreviver será através da eficiência operacional e do crescimento estratégico.
Além disso, tecnologias como 5G, redes neutras e inteligência artificial terão um impacto significativo na forma como as operadoras estruturam seus serviços. Aquelas que conseguirem se adaptar rapidamente e oferecer soluções mais inteligentes e personalizadas sairão na frente.
Gestores: Quais são os principais fatores que você considera na hora de investir ou apoiar um novo empreendimento no setor de telecomunicações?
Vicente: Ao avaliar um novo negócio, sempre analiso três pilares essenciais:
- Diferenciação – O que torna essa empresa única? Qual o diferencial competitivo dela? Se for apenas mais um provedor sem inovação, dificilmente terá sucesso.
- Eficiência operacional – Como a empresa gerencia seus custos e processos? Em um setor competitivo, gastar menos e operar melhor é fundamental.
- Escalabilidade – O modelo de negócios pode crescer sem perder qualidade? Empresas que não têm capacidade de escalar ficam presas a um crescimento limitado e acabam desaparecendo.
No momento atual do mercado, apostar em um novo provedor de internet no Brasil não é uma boa ideia. O jogo já mudou. Hoje, quem quiser entrar nesse setor precisará ter muito capital e uma estratégia muito bem definida, pois o mercado já está consolidado.
Gestores: Qual é o principal conselho para quem quer entrar no setor de telecomunicações hoje?
Vicente: Se alguém me perguntasse hoje se vale a pena começar um provedor de internet no Brasil, minha resposta seria direta: não vale mais a pena. O mercado já está saturado e funciona como um jogo de “rouba-monte”, onde um provedor precisa tirar clientes do outro para crescer. Isso torna a entrada muito cara e difícil.
O futuro do setor está nas fusões e aquisições. Com a alta dos juros e o custo crescente da operação, a melhor estratégia para sobreviver será se unir a outros provedores e buscar eficiência em escala. Isso vale para todas as camadas do mercado, desde pequenos provedores até grandes players.
Se alguém quiser empreender em telecom, minha recomendação seria buscar nichos inovadores, A internet residencial tradicional já não é mais o “Oeste Selvagem” que era nos anos 2000. O jogo mudou, e quem não se adaptar vai ficar para trás.