
Gestores: O mercado de streaming tem evoluído rapidamente, com novos modelos de negócio e mudanças no comportamento do consumidor. Na sua visão, quais são as principais tendências que vão moldar o futuro das plataformas nos próximos anos, e como a Watch tem se posicionado para acompanhar ou liderar essas transformações?
Maurício Almeida: O setor de streaming está entrando em uma fase de transformação estrutural. A lógica de “mais catálogo = mais valor” já não se sustenta. Três forças principais moldam o futuro:
- Engajamento deixa de ser distribuição e passa a ser orquestração: O futuro não está em “entregar conteúdo para muitas telas”, mas em orquestrar a jornada completa do usuário, combinando momentos, formatos, contexto e intenção. Isso exige plataformas que entendam o estado e o tempo de cada usuário, recombinem vídeo, música, rádio e informação, criem fluidez entre descoberta e consumo e gerem valor mensurável para o ISP.
A Watch está nesse movimento por meio de XP do assinante com curadoria contextual, personalização e multiformatos e XP do ISP com dados claros, aumento de valor para o cliente final, impacto real em churn e ARPU.
- Publicidade programática como motor de receita: Os modelos híbridos (conteúdo + ads) crescem com inteligência, automação e dados acionáveis. A Watch está estruturando sua operação de mídia programática para ampliar receita dos ISPs e criar novas fontes de monetização.
- Consumidor busca serviços completos, não só catálogo: O assinante quer praticidade, oferta relevante e qualidade, não apenas volume de conteúdo. Isso favorece quem entrega uma experiência consistente e orientada por dados, algo central na estratégia da Watch.
Gestores: A pirataria ainda é um dos maiores desafios do setor audiovisual no Brasil. Como a Watch enxerga esse cenário e quais iniciativas ou tecnologias vocês têm adotado para mitigar esse impacto e educar o público sobre o valor do consumo legal de conteúdo?
Maurício Almeida: A pirataria segue como um dos maiores desafios do audiovisual no Brasil – técnico, econômico e cultural. A Watch, portanto, atua em três frentes. Primeiro, uma experiência legal superior: o assinante migra do pirata quando a experiência oficial é mais estável, mais rápida, com melhor áudio (ex.: MEEVA para rádios), com conteúdo relevante e fácil de usar, boa relação custo/benefício, além de compreensão do risco real que representa a pirataria. A estabilidade e a curadoria são armas mais fortes que qualquer ação punitiva.
A segunda frente é a educação pragmática dos consumidores. Mostramos, com fatos e números, como a pirataria traz risco de vazamento de dados; fomenta a indústria do crime organizado; aumenta o preço do legal ao invés de baixar e destrói valor para o setor. A mudança vem de clareza e alternativas, não de discurso moral. A terceira é a tecnologia e dados contra uso indevido. Para evitar isso, aplicamos: DRM, proteção de sinal, análise de comportamento suspeito, bloqueios automatizados.
Essas frentes são coordenadas com mais de 2.300 ISPs parceiros e também por meio de parcerias como ABTA e ABOTTS, associação na qual sou Líder do Conselho Antipirataria. Mas sempre combinando segurança com boa prestação de serviço, pois essa é a solução definitiva.
Gestores: A Watch nasceu em um ambiente competitivo, dominado por grandes players globais. Quais foram os maiores desafios para construir a marca e consolidá-la no mercado nacional, e o que você considera os principais fatores que explicam o crescimento da plataforma?
Maurício Almeida: Entramos em um mercado dominado por gigantes globais, com desafios reais. O primeiro deles é construir credibilidade em um setor exigente: no início, a principal barreira era confiança. A resposta veio com entrega consistente, com estabilidade técnica, compliance rigoroso, crescimento recorrente e parcerias sólidas com programadores e ISPs.
Depois, precisamos resolver dores reais dos provedores: a Watch cresceu porque se concentrou no essencial: reduzir churn, aumentar ARPU, melhorar a experiência do assinante e dar ao ISP um serviço confiável, estável e competitivo. Superamos estes desafios com base em alguns pilares do crescimento: foco absoluto em ISPs; produto robusto com mais de 30 mil horas e canais estáveis; cultura de entrega e evolução rápida. e relação próxima com os provedores, ouvindo e ajustando sempre.
Gestores: Você tem uma trajetória empreendedora marcada por inovação e resiliência. Quais aprendizados dessa jornada foram essenciais para o desenvolvimento da Watch e que conselhos você daria a novos empreendedores do setor de tecnologia e mídia?
Maurício Almeida: Minha trajetória é marcada por inovação e resiliência, mas sobretudo por revisitar suposições constantemente. Primeiro, a visão precisa vir acompanhada de prova contínua: crescimento sustentável é feito de pequenas vitórias acumuladas, não apenas de grandes discursos.
Segundo, dados corrigem vaidades: quando tentei moldar o mercado à minha tese, errei. Quando ouvi o mercado, acertei. Agora ouço muito atentamente o assinante. Terceiro, times multigeracionais aumentam a qualidade das decisões: com diferentes idades, repertórios e estilos, criamos soluções mais completas. Mas isso exige diálogo e maturidade, algo que incentivamos diariamente na Watch.
Alguns conselhos que posso dar para novos empreendedores: resolva problemas reais; valorize o intelectual antes do financeiro; conheça a fundo o seu negócio e seu ecossistema — sempre; tenha disciplina e atualize suas certezas.
Gestores: Quais são os próximos passos da Watch em termos de expansão, novos produtos ou parcerias estratégicas? Há algum movimento ou inovação que você acredita que será determinante para o posicionamento da empresa nos próximos anos?
Maurício Almeida: O caminho à frente está em andamento. Vamos focar em uma nova North Star da empresa: saímos da lógica de “engajar muito” para orquestrar experiências profundas que aumentem satisfação, reduzam churn, ampliem receita do ISP e gerem dados acionáveis.
Também estamos focados em uma expansão do portfólio de serviços por meio de algumas frentes, como AWDIO – rádios, música e podcasts com foco em emoção e informação; MEEVA – solução que corrige qualidade de áudio e mantém rádios sempre no ar; Watch White Label – para content creators monetizarem e terem controle dos seus conteúdos e dos dados gerados por eles e mídia programática – novo motor de monetização para ISPs.
Alguns movimentos estratégicos de longo prazo que estamos focados são parcerias com fabricantes e programadores, ampliação da atuação no ecossistema de áudio e evolução para automação e IA aplicada à curadoria e à gestão do serviço.
Por último, mas não menos importante, a internacionalização com critério também está no radar da Watch. Não é expansão por expansão, é abrir mercados onde nossa proposta de valor faz sentido e reduz riscos. Desenvolvemos muita tecnologia própria, com muita performance e baixo custo, somos muito competitivos, temos qualidade global, somos membros do consórcio SRT.